Os modificadores do grupo verbal não completam o sentido do verbo e não são selecionados por este, por isso se considera que não são complementos (ou argumentos) do verbo. Os modificadores do grupo verbal são constituintes que «contribuem para o significado do sintagma verbal, quantificando, qualificando ou localizando (temporal ou espacialmente) a situação que se descreve, mas não representam participantes na situação ou no evento descrito pelo verbo.» (Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1161). Por estas razões ainda os modificadores têm uma relação mais fraca com o verbo do que os complementos, pelo que podem ser omitidos da frase sem prejudicar a sua gramaticalidade, pois não são essenciais.
Um dos processos de identificação dos modificadores do grupo verbal é a construção pseudoclivada. Para percebermos o seu funcionamento, observemos as frases (1) e (2):
(1) «O João pôs o livro no escritório.»
(2) «O João leu o livro no escritório.»
Numa construção pseudoclivada é possível focalizar o verbo e os seus complementos:
(3) «O que o João fez foi pôr o livro no escritório.»
(4) «O que o João fez foi ler o livro.»
A estrutura pseudoclivada coloca o enfoque no verbo e seus complementos, mas não no modificador do verbo, daí a estranheza de (5):
(5) «?O que o João fez foi no escritório.»
A estrutura pseudoclivada focaliza a totalidade dos complementos do verbo, daí a estranheza de (6):
(6) «?O João pôs o livro.»1
Por seu turno, os modificadores de frase têm ainda uma maior independência do que os modificadores do grupo verbal. Os constituintes com esta função sintática revelam alguns dos comportamentos a seguir apresentados:
(i) porque têm uma maior independência prosódica (do que os modificadores do grupo verbal), são demarcados por vírgula2:
(7) «Felizmente, o João chegou.»
(8) «O João foi descansar, uma vez que trabalhou durante a noite.»
(ii) são incompatíveis com processos de focalização, como a estrutura clivada:
(9) «*Foi felizmente que o João chegou.»
(10) «*Foi uma vez que trabalhou durante a noite, que o João foi descansar.»
(iii) não constituem resposta a uma pergunta:
(11) «Por que razão foi o João descansar?» - «*Uma vez que trabalhou durante a noite»
(12) «Porque/Como chegou o João?» - «*Felizmente»
Do ponto de vista das classes de palavras, os advérbios que exprimem juízos do falante sobre o conteúdo da frase ou sobre as circunstâncias de produção da frase têm habitualmente a função de modificador de frase. No que respeita às orações, orações subordinadas adverbiais concessivas, algumas causais (introduzidas por uma vez que, dado que), as condicionais-concessivas3 são frequentemente modificadores de frase3.
Relativamente às frases apresentadas pela consulente, procedemos à sua análise:
(13) «O dia amanheceu tranquilo, em Faro.» - sem outro contexto, considero que «em Faro» é um modificador do grupo verbal, pelo que não deve ser antecedido de vírgula.
(14) «Gostei de ver aquele filme no cinema.» - modificador do grupo verbal
(15) «Vi aquele filme no cinema.» modificador do grupo verbal
(16) «Irás servir Satanás porque sempre te ajudou.» - modificador do grupo verbal
(17) «Sempre que vieres à Madeira vem visitar-me.» - modificador do grupo verbal; após a oração subordinada adverbial deve ser colocada uma vírgula porque a oração se encontra em posição inicial de frase.
(18) «Embora seja bom estudante, o Pedro nem sempre está atento.» - modificador de frase
(19) «Se o Diabo quisesse o Judeu na sua barca teria agido de outra forma.» - modificador de grupo verbal; deve ser colocada uma vírgula no final da oração subordinada
(20) «Talvez os compradores estivessem certos.» - modificador de frase
(21) «Nunca tanta pressa vi.» - modificador de grupo verbal
? assinala frases pouco aceitáveis
* assinala frases agramaticais ou inaceitáveis.
1. Para mais informações, consulte-se, por exemplo, Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1161-1165.
2. Note-se que este critério não permite distinguir a função de orações subordinadas adverbiais colocadas em início de frase, antes da subordinante, porque, neste caso, elas serão sempre seguidas de vírgula.
3. Como por exemplo «Mesmo que tivesse lido o livro, não teria sabido responder à questão.»
Cf. Idem, ibid., pp. 1600-1603 e 2031 – 2038.